quinta-feira, 18 de novembro de 2010

7° fragmento para um discurso genuinamente amoroso_ infinitimamente pessoal

eu não quero falar com você em meios tons
nem nos prender em trivialidades que não me dizem respeito
eu não me apeteço por narrativas xulas de um diário que não delire o verbo, que não retire da realidade o mais poético que se tem

eu prometi que fumaria apenas 10 cigarros por dia
e devo cumprir essa promessa porque foi um pacto familiar
mas posso transfigurá-lo pra onde for

(e todo o resto
se quiser me acabar na fumaça que me atinge

tudo me atinge tão profundamente que eu não poderia lhe descrever

ando preocupada com papai e com o destino da arte que se tornou inteira em mim
me embriaguei por saber que o direito da cultura será igual ao da saúde e alimentação
eu acredito que um país se constrói com identidade
e me apaixono todos os dias pelo brasil

eu quero que lulu supere a adolescência como o bem maior que desejo
e pretendo saber disernir o momento de apresentar mamãe a papai para que os dois escutem todos os discos da partilha que os separou. juntos, porque é assim que deve ser.

eu exijo que não mexam com os brios de quem trabalha pela verdade e

de quem faz a poesia da vida, em qualquer instância ou formato (palavra que inclusive não me interessa)

eu preciso muito ver os meninos de recife até o fim do ano
e acordo querendo notícias daquela terra... toda manhã.

eu escuto caetano como bebo água e
penso numa forma de conjugar o que faço com o que preciso fazer.
minha vida necessita ser elevada ao prazer.

toda vez que me derramo careço de uma noite de paz.
me preocupei com a conversa de mamãe e vou cuidar do meu sono
porque preciso do meu corpo forte como o de um lobo.

eu tenho a sensação diária e quase sempre nítida de sair de casa para a guerra

e não tenho medo de atirar
mas certamente astearia uma bandeira-branca caso eles dessem trégua

eu quero que os meus amigos fiquem bem
porque nós não temos como falhar

sinto uma saudade absurda da minha avó
e às vezes penso que as pessoas não conseguem superar suas leis

eu aprendi com scalia a pensar melhor em tudo que faço
e a me concentrar no bem maior que quero pro mundo
assim me supero um pouco todas as horas


eu preciso estar com mamãe sempre
por isso me receio quando partir pro recife
[porque só não posso ficar sem ela

tenho medos.
e às vezes sou frágil.
fora isso,
aqui estou.

não vou falar com você em outros termos porque não vou usar termos que não me pertencem para falar do que é tão meu.
quero o exercício de resignificar porque não me contento em reduzir as coisas]
da minha profunda forma de sentir não devo retirar-me
_ porque convém ao quê convir
se você não quer a poesia que lhe ofereço, esqueça-a.

de resto devemos nos calar.
e é nessa fala (que em si se posiciona) que me coloco frente ao mundo.
a poesia é algo que esquecemos e quem dera esquecêssemos nos bancos de praças
mas ninguém senta no banco para ler poema?

eu não me assusto por você temer a magia.

nós todos aprendemos a superar a forma oca que as coisas se colocam quando o que queremos é substância que transborde.
(não que não devêssemos subverter isso).

Um comentário:

Paula disse...

Que lindo, meu amor. Como é bom lê-la e, mais que isso, senti-la. Beijo grande, Paul.